domingo, 11 de julho de 2021

11ª edição Prémio António Manuel Couto Viana: poema vencedor

A Maria Inês Dias foi vencedora da 11ª edição do Prémio António Manuel Couto Viana, na modalidade de poesia, com o poema: 

Canto Quinto e Meio

Tu, oh titã rochoso,

Protetor das águas do fim do mundo.

Força intransponível

Que se impõe no caminho glorioso

Da vontade de el-rei D.João II

 

Sofres da mais humana das doenças:

A infeção da alma

Que sentir o amor demanda.

Encarcerado nessas paredes imensas

Choras porque ainda a amas.

 

Gigante, torna-te marinheiro

Desta maravilhosa frota;

Deste povo que quer fugir da derrota

Que é jazer na memória do mundo

Como nevoeiro.

 

Utiliza a dor que carregas

Para quebrar essas correntes de rocha e amargura.

E ajuda este povo que renegas,

Capaz de gravar o teu nome

Na épica escritura.

 

Com sal das tuas lágrimas,

Salga os nossos alimentos.

Com a tua ira tempestuosa,

Atiça o coração dos moribundos.

Do desassossego cria maravilhas.

 

Usa a dor como impulso para a glória.

A alma degredada,

Triste e atormentada

Como prego.

E o corpo flagelado

(Lousa em pele da nossa história)

Como martelo

Para pregares os caixões dos nossos inimigos.

 

Marinheiro de águas infernais,

O povo português sente a tua angústia.

E sendo mais do leme aqui do que eu,

Suplicamos-te, com a maior das bravuras e simpatia

Que Deus nos concedeu:

Abre os portões marítimos do Índico,

Deixando-nos passar.

 

E gravo aqui, através desta espada

E do sangue que por ela escorre,

Que te tornarás

No mais elevado símbolo de esperança

Da nação de Portugal.