quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Gato de Uppsala

«Apresento-me: sou um pequeno animal que acabou de fazer uma longa viagem. Apareci aqui nesta cidade de Estocolmo acabado de chegar duma terra ainda mais ao Norte. Vim de Uppsala. Cheguei dentro dum cesto de vime transportado aos ombros do meu dono, alfaiate e tecelão, o senhor Elvis, que me trouxe com ele. Com ele veio também a sua mulher Agnetta, porque ele, depois de ter pensado muito bem na sua vida, chegou à conclusão de que não seria capaz de viver sem nós, sem mim e sem ela, o que eu, pequeno animal, achei muito provável e natural. (...)
Agnetta, e se nos puséssemos a caminho de Estocolmo? Estamos no final de Julho, sabemos que a primeira viagem do Vasa está para breve, em Agosto. Tu e eu queremos muito ver esse lindo navio que inventámos no nosso pensamento mas que existe, que está quase pronto e existe! Nós até gostávamos de pôr um pé lá dentro dele, não é, minha querida? (...)
Ah! Se eu gostava! Nunca saí daqui de Uppsala, aqui nasci e cresci tão perto do mar mas sem nunca o ter visto. Sonho todos os dias com ele; ouvi muitas histórias do mar quando era pequenina e tudo o que eu mais quero é conhecê-lo. Como será isso? Deixa de haver terra e passa a haver água? E o mar é só água? Como é isso possível? E como é que se anda no mar?"
“Foi por ele, pelo navio Vasa que deixaram a sua terra de Uppsala e viajaram a pé para tão longe, viagem que durou alguns dias e algumas noites; foi pelo belo navio Vasa e por tudo o que ele significa que um dia fecharam a portinhola de madeira da sua casa quentinha...”
“É nesta altura do ano, a preferida de Elvis, que muitas vezes as Auroras aparecem. São línguas de luzes de todas as cores que surgem como relâmpagos mas muito mais ligeiras que o relâmpago; é uma língua de luz que vem sibilando e que varre toda a terra de Kiruna; às vezes é verde, às vezes é vermelha, às vezes é roxa. Também as há azuladas. Raras são as amarelas.
Há por ali quem diga que quem avista uma Aurora roxa terá muita, muita sorte e morrerá muito velho. Parece que é verdade.”
O Gato de Uppsala, Cristina Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário