Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*.
P: Onde estava no dia da revolução?
R: Estava na minha casa. Estava ainda deitado na cama quando soube que estava a haver uma revolução.
P: Como é que soube do que se estava a passar?
R: Quando acordei liguei o rádio e apercebi-me do que se estava a passar.
P: O que mais o marcou nesse dia?
R: Penso que foi o sentimento de mudança, sentir que finalmente íamos ser livres.
P: Como era a sociedade antes da Revolução do 25 de abril de 1974?
R: Acho que antes do 25 de abril a sociedade vivia em constante medo, as pessoas tinham medo do regime. Nas ruas não se falava muito pois alguém podia estar a ouvir. Não se podia falar mal do Governo, nem dar a entender alguma opinião que não fosse a favor do regime, pois estávamos sujeitos a ser interrogados pela PIDE. Por outro lado, acho que grande parte da sociedade nem tinha consciência que vivia numa ditadura, talvez a política lhes passasse ao lado, não sei…
P: Considera que havia trabalho?
R: Não tanto como deveria haver. Eu tinha trabalho, mas o meu salário era o único cá em casa. A minha mulher ficava em casa com as minhas filhas e com a criada.
P: Trabalhava em que setor?
R: No setor da mecânica, era chefe de uma oficina de automóveis.
P: Em relação aos salários, relações com os empregados qual foi a grande mudança?
R: Penso que não houve grandes mudanças, pelo menos não para mim. Tinha um bom salário e sempre mantive uma boa relação com os meus empregados.
P: E em termos de proibições?
R: Lembro-me perfeitamente que era proibido falar mal do regime de Salazar. Recordo-me também de ir a Espanha muitas vezes visitar família e trazia de lá garrafas de Coca-Cola, aqui em Portugal não era permitida a venda da bebida então quando lá ia trazia sempre muitas garrafas.
P: E como é que trazia as garrafas para Portugal se a bebida não era permitida?
R: Vinham escondidas debaixo dos bancos do carro, muitas vezes punha-as debaixo dos assentos das minhas filhas e elas vinham sentadas nas garrafas.
P: O que mudou em Portugal com a Revolução?
R: Muita coisa mudou depois da Revolução, a polícia política deixou de existir, havia liberdade para falar, podíamos votar livremente, podíamos estar em grandes grupos de pessoas a conversar ou discutir ideias, mas acho que a grande mudança e a mais importante foi mesmo a liberdade.
P: Disse que depois da Revolução se podia votar livremente, isso quer dizer que durante a ditadura não havia liberdade de voto?
R: Não, as eleições não eram livres e nem todos podiam votar, pelo que me lembro as mulheres só podiam votar se tivessem andado na escola até uma certa altura.
P: Faz um balanço positivo ou negativo do 25 de Abril?
R: Um balanço positivo sem dúvida, o 25 de abril foi realmente uma coisa muito boa.
P: O que é que o leva a dizer que o 25 de abril foi realmente algo muito bom?
R: Como já disse anteriormente, se não fosse a revolução não haveria liberdade, outros partidos políticos ou eleições livres, mas sem dúvida que outro motivo que me leva a dizer que o 25 de abril foi algo de muito bom foi o final da guerra em Angola e Moçambique. Penso que o final da guerra foi bom para nós porque não tivemos de mandar mais homens para a guerra e foi bom também para os povos de lá porque conseguiram alcançar a sua independência.
P: Acha que Portugal vive em verdadeira democracia?
R: Sim, penso que sim. Porém, acho que podíamos viver muito melhor. Ainda há miséria, pessoas a passar fome, idosos sem dinheiro para medicamentos, existem muitas desigualdades, acho que ainda há vários aspetos que podem ser melhorados.
Realizado por Ana Felgueiras, 12º F
*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Esta é a madrugada que eu esperava"
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