quarta-feira, 21 de abril de 2021

Onde estava no 25 de abril?

 


Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*.

Entrevistado: Carlos Coelho, 77 anos


P: Onde estava no dia da revolução?

R: Estava na minha casa. Estava ainda deitado na cama quando soube que estava a haver uma revolução.

P: Como é que soube do que se estava a passar?

R: Quando acordei liguei o rádio e apercebi-me do que se estava a passar.

P: O que mais o marcou nesse dia?

R: Penso que foi o sentimento de mudança, sentir que finalmente íamos ser livres.

P: Como era a sociedade antes da Revolução do 25 de abril de 1974?

R: Acho que antes do 25 de abril a sociedade vivia em constante medo, as pessoas tinham medo do regime. Nas ruas não se falava muito pois alguém podia estar a ouvir. Não se podia falar mal do Governo, nem dar a entender alguma opinião que não fosse a favor do regime, pois estávamos sujeitos a ser interrogados pela PIDE. Por outro lado, acho que grande parte da sociedade nem tinha consciência que vivia numa ditadura, talvez a política lhes passasse ao lado, não sei…

P: Considera que havia trabalho?

R: Não tanto como deveria haver. Eu tinha trabalho, mas o meu salário era o único cá em casa. A minha mulher ficava em casa com as minhas filhas e com a criada.

P: Trabalhava em que setor?

R: No setor da mecânica, era chefe de uma oficina de automóveis.

P: Em relação aos salários, relações com os empregados qual foi a grande mudança?

R: Penso que não houve grandes mudanças, pelo menos não para mim. Tinha um bom salário e sempre mantive uma boa relação com os meus empregados.

P: E em termos de proibições?

R: Lembro-me perfeitamente que era proibido falar mal do regime de Salazar. Recordo-me também de ir a Espanha muitas vezes visitar família e trazia de lá garrafas de Coca-Cola, aqui em Portugal não era permitida a venda da bebida então quando lá ia trazia sempre muitas garrafas.

P: E como é que trazia as garrafas para Portugal se a bebida não era permitida?

R: Vinham escondidas debaixo dos bancos do carro, muitas vezes punha-as debaixo dos assentos das minhas filhas e elas vinham sentadas nas garrafas.

P: O que mudou em Portugal com a Revolução?

R: Muita coisa mudou depois da Revolução, a polícia política deixou de existir, havia liberdade para falar, podíamos votar livremente, podíamos estar em grandes grupos de pessoas a conversar ou discutir ideias, mas acho que a grande mudança e a mais importante foi mesmo a liberdade.

P: Disse que depois da Revolução se podia votar livremente, isso quer dizer que durante a ditadura não havia liberdade de voto?

R: Não, as eleições não eram livres e nem todos podiam votar, pelo que me lembro as mulheres só podiam votar se tivessem andado na escola até uma certa altura.

P: Faz um balanço positivo ou negativo do 25 de Abril?

R: Um balanço positivo sem dúvida, o 25 de abril foi realmente uma coisa muito boa.

P: O que é que o leva a dizer que o 25 de abril foi realmente algo muito bom?

R: Como já disse anteriormente, se não fosse a revolução não haveria liberdade, outros partidos políticos ou eleições livres, mas sem dúvida que outro motivo que me leva a dizer que o 25 de abril foi algo de muito bom foi o final da guerra em Angola e Moçambique. Penso que o final da guerra foi bom para nós porque não tivemos de mandar mais homens para a guerra e foi bom também para os povos de lá porque conseguiram alcançar a sua independência.

P: Acha que Portugal vive em verdadeira democracia?

R: Sim, penso que sim. Porém, acho que podíamos viver muito melhor. Ainda há miséria, pessoas a passar fome, idosos sem dinheiro para medicamentos, existem muitas desigualdades, acho que ainda há vários aspetos que podem ser melhorados.
Realizado por Ana Felgueiras, 12º F

*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Esta é a madrugada que eu esperava"

Sem comentários:

Enviar um comentário