A resposta
Desde a mais tenra idade que
sempre me perguntaram o que queria ser quando crescesse. Ouvia à minha volta
palavras cheias de ambição, de desejo, talvez com uma pitada de curiosidade e
sonho, e pensava arduamente no que responder, não para aparentar uma cultura
que ainda não tinha, mas para seguir fielmente as palavras que proferisse.
Queria ser verdadeira a mim mesma, fazer algo que me completasse e que me trouxesse
a felicidade de que todos os contos de fadas falavam. O que é certo, de uma
rapariga indecisa como eu, é que as minhas respostas mudavam inúmeras vezes, não
só porque não tinha a maior das certezas, mas porque sabia que seria algo que
teria de fazer pela maior parte da minha vida. A escolha tinha de ser acertada,
tinha de ser perfeita. As minhas respostas passaram, então, pelas mais diversas
áreas: bailarina, atriz, historiadora, tradutora, violetista, cientista
forense. A cada duas semanas surgia uma profissão nova, um novo rumo para a
minha vida.
Apesar de todas as minhas
flutuações, o maior apoio que poderia ter recebido foi o da minha mãe. Nunca me
impôs um único sonho que fosse seu, ao invés sonhava que os meus se tornassem
realidade. Afirmou com o maior dos orgulhos que assistiria a todos os filmes
que fizesse, todos os concertos que desse, que aplaudiria as minhas conquistas
e todos os meus feitos, fossem eles um solo num concerto em Viena ou a
descoberta de um novo túmulo egípcio, numa escavação de renome. A minha mãe
sonhava com o meu sucesso, com a minha felicidade. Mal ela sabia que a maior
felicidade que eu poderia ter, era vê-la sorrir verdadeiramente todos os dias,
sem medos, sem preocupações.
Aquando o divórcio dos meus pais,
ficou sozinha com uma filha pequenina para criar, uma casa para sustentar e um
trabalho para manter. Todos os dias via o esforço que fazia, o quanto se
cansava e as dores que suportava. Mas nunca deixou que o mundo a derrubasse, e
lutava sempre por dias melhores, como uma verdadeira supermulher. “Meu amor, eu
aguento tudo porque quero que vivas os teus sonhos, quero que chegues longe e
que vivas tudo o que eu não pude viver”. Ao longo dos anos, as suas palavras
ecoavam em mim, davam-me um rumo e ajudavam-se nas minhas decisões. A minha mãe
sacrificou sempre tudo por mim, mesmo quando não o tinha.
Desde o dia em que nasci, foi o
meu porto de abrigo. Secou todas as minhas lágrimas, sarou todas as minhas
feridas e amou todos os meus defeitos, como só uma boa mãe sabe fazer. Os
abraços que me dá são o único sítio onde me sinto segura, onde o mundo aparenta
ser esse que a todas as crianças pequeninas se descreve. Ganha cor, forma e
alegria. Ganha sentido. E tudo porque o amor que me dá é incondicional, tal
como o que sinto por ela. Só por ela conseguiria abdicar dos meus sonhos, da
minha vida, enfrentar todos os meus medos. Nunca ninguém chegará ao patamar da
minha mãe, porque mais do que um exemplo, mais do que uma certeza, mais do que
uma dádiva, ela é o meu maior tesouro, a maior bênção que me poderia ter sido
dada.
Dia 8 de março, dia da Mulher,
finalmente posso dizer que me torno numa, ao celebrar o meu 18º aniversário. Ao
fim de todos estes anos, sei finalmente com todas as certezas aquilo que
responderia à pergunta que tantas vezes me fizeram. “O que queres ser quando
cresceres”? Quero ser como a minha mãe. Quero ser uma mulher forte, destemida,
lutadora e verdadeira, como ela sempre me mostrou, como sempre foi e sempre
será. Quero ser um exemplo para os meus filhos, tal como ela foi para mim.
Quero dar-lhe toda a felicidade que me deu, que me fez sentir e que nunca
deixou que se extinguisse em mim.
Mãe, és a minha maior alegria, o
meu propósito, o meu caminho. Sei que, graças a ti, todos os meus sonhos se vão
realizar, que o que eu mais desejo vai mesmo acontecer. Que eu vou conseguir mudar
o teu mundo. Vou dar-lhe cor, forma e alegria. Sentido. E disso, eu nunca irei
desistir, tal como tu nunca desististe de mim. Estaremos juntas até ao fim,
mesmo que isso implique remarmos contra a maré. Abandonar-te seria
abandonar-me. Como poderia eu viver inteiramente sem a minha mais preciosa
metade?
Obrigada. Eu amo-te. Para sempre.
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