sexta-feira, 30 de abril de 2021

Onde estava no 25 de abril?

 
Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*

Entrevista realizada por. Íris Lima Alves, 12ºF, nº13
Entrevistado: Agostinho Ferreira Alves, 70 anos.

1. Onde estava no 25 de abril?

No dia 25 de Abril, entre 1973 e 1975, estive em Vila Paiva de Andrade, em Moçambique, colónia pertencente ao ultramar português (uma divisão administrativa criada pelo Estado Novo para promover um rápido desenvolvimento social, cultural e económico das colónias), a fazer uma missão como paraquedista no B.C.P.31 (Batalhão Caçadores Paraquedistas 31 do quartel general em Moçambique) na defesa das colónias devido a uma guerra de subversão. Os povos estavam revoltados e queriam a sua independência e terminar com o Estado Novo.
No período do Estado Novo, estive em Subportela, Viana do Castelo, mas trabalhava em Tancos, antes de ir para Moçambique no quartel general R.C.P. TANCOS, ou seja, Regimento de Caçadores Paraquedistas de Tancos, atualmente B.E.T.P.- Base Escola de Tropas Paraquedistas.

2. Alguma vez foi confrontado pela PIDE?

Convivi com a PIDE, a PIDE fazia parte do sistema militar, mas nunca fui confrontado quanto a ser da oposição ou ter ideias contrárias à ideologia do Estado. Conheci Cantoneiros, que carregavam uma lata com um caderno e um lápis para anotar coisas interessantes para informar a PIDE e tinham a possibilidade de poder multar o povo por pequenas infrações, conheci Regedores e a minha família tinha amizades com o Padre e o Presidente da Junta de Freguesia de Subportela. 
O meu pai mantinha amizade com o Padre e um dia foi chamado para ir à Igreja e este o avisou-o sobre um dos filhos dele, o Manel, por não cumprir as ordens; ele não ia a missa e aconselhou-o a que tomasse alguma atitude quanto a isso, para não ser extraditado para a Costa de África, ou até o pior podia acontecer. 
Aí sim eu notei quem eram os bufos da freguesia, eles davam a informação de todos à polícia.



3. Considera que a Revolução de Abril trouxe liberdade à população e ao país?

Ao país, sim, a juventude deixou de ir para a guerra. 
Quanto às colónias, a descolonização não foi bem feita. Não foi dada a liberdade aos povos das colónias, mas sim aos grandes povos como a Rússia, a China e a América. 
Foi retirado a liberdade aos Retornados, estes construíram uma vida nas colónias e devido à descolonização, foram mandados de volta para o país, deixando tudo para trás. 
A luta pela liberdade foi bem feita, mas não foi concluída e esse foi o grande erro: a liberdade das colónias não foi dada ao povo, mas sim às potências, e as colónias até hoje permanecem sem liberdade. Acabou por piorar, o povo começou a ser mais oprimido, escravizado e subjugado pelas grandes potências. 

4. Lembra-se do que acontece aos presos políticos a seguir a revolução?

Eu conheci um preso político aqui de Vila Franca, o nome dele era Liquito e o mesmo afirmava-se como um da oposição, um anti PIDE, ele revoltava-se, proclamava-se e opunha-se ao regime. Uma noite fui informado que ele foi levado pela PIDE e a partir daí nunca mais o vi. 
Toda a gente conhecia o nome de Mário Soares e de Álvaro Cunhal, alguns dos presos políticos mais conhecidos foram soltos após o 25 de Abril. 
O que o 25 de Abril trouxe de melhor foi a liberdade política, por isso que passamos de uma ditadura fascista para uma democracia. 

5. Do que se apercebe, a Revolução do 25 de Abril teve algum impacto no estrangeiro?

Teve sim, nos próprios fugitivos do regime por exemplo, que fugiram a salto. 
Inclusive, lembro-me de uma história que aconteceu comigo onde eu tive a oportunidade de sair daqui, eu tive uma oportunidade para fugir ao regime. Poucos dias antes de eu ir para a tropa, apareceu uma pessoa na casa dos meus pais e disse assim: Agostinho, eu levo-te de borla, não te levo dinheiro algum e levo te para a França, deixa esses e não vás para a guerra. A minha resposta final foi não, eu disse-lhe que ia cumprir a minha missão. 
Sim, eu podia ter fugido ao regime, à guerra e ter ido para a França, a salto, e ganhar dinheiro como aconteceu com a maioria dos meus amigos, que atualmente andam por aí em liberdade. Senão acontecesse a revolução do 25 de Abril, ainda hoje não podiam pôr cá os pés, essa gente que fugiu à tropa, nem em Portugal estariam.

6. O que mudou em Portugal após o 25 de abril?

Em Portugal, toda a gente notou uma forte mudança, uma mudança tecnológica a todo nível. 
A mudança de regime fez uma abertura com outros países que estavam mais desenvolvidos, permitindo que Portugal se deixasse desenvolver com as tecnologias. A evolução tecnológica em Portugal após o 25 de Abril cresceu, graças ao intercâmbio de tecnologia com outros países também democráticos, Portugal abriu-se ao mundo devido à mudança política.

*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Hoje é a madrugada que eu esperava"

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