quinta-feira, 29 de abril de 2021

Onde estava no 25 de abril?

 
Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*

P. Lembras-te de algum dia marcante do ano 1974?

R: É difícil não me lembrar do 25 de Abril, por muito que estivesse emigrada em França com o teu avô, tocou-nos a nós também pois tínhamos nos nossos planos voltar para Portugal.

P. Que idade tinhas e onde estavas?

R: Estava prestes a fazer 30 anos e, como disse, estava em França.

P. Disseste que estavas em França, como soubeste da notícia?

R: No meu tempo lá trabalhei para a “Madame Minare”, tomava conta da sua casa. Era uma ótima empregada doméstica, a minha patroa costumava-me dizer que nunca a sua casa tinha estado tão limpa e asseada (risos). Mas enfim, como te estava a dizer, chegava todos os dias a horinhas, acordava sempre às seis e meia da manhã para apanhar “le bus” às sete e meia e chegar às oito da manhã certas. Enquanto trabalhava ouvia sempre uma rádio portuguesa que existia em Paris, gostava de estar a par das notícias e gostava principalmente da minha música portuguesa (também era a única que sabia cantar direito). Como não tinha tempo para televisão, lá teria de me entreter com a rádio. Ainda me lembro, estava eu a passar a ferro quando a música que estava a passar foi interrompida. Foi assim que descobri a notícia. Ao final do dia, quando regressei a casa, só tive tempo de pousar as minhas coisas e corri logo para casa do meu irmão, que vivia no prédio atrás do nosso, para ver se passava alguma notícia na televisão dele.

P O que significou para ti esta revolução?

R: Quando estávamos cá vivíamos mal, tínhamos pouco, por muito que trabalhássemos ganhávamos pouco e tudo por causa do governo da altura. E quando eu e o teu avô fomos para França, não fomos com a ideia de ficar lá para sempre. Fomos com o objetivo de ter uma vida melhor para conseguir comprar um terreno para construir uma casa e para construir também uma família. A revolução de 25 de Abril só fez com que ficássemos mais certos de voltar para Portugal e claro que mais felizes, não só por nós, também pela família que tínhamos cá.

P. E para Portugal, o que achas que significou esta data?

R: Significou liberdade, principalmente a liberdade de expressão. As pessoas começaram a poder falar sem medo de quem pudesse estar a ouvir, se bem que ainda houvesse muita gente com receio; os jornais começaram a publicar as notícias por inteiro, sem censura; já não havia livros proibidos nem cartas que fossem abertas e revistadas. Para não falar dos salários que também melhoraram imenso. Não duvido que tenha sido uma mais valia para o país.  

P. Que imagens passadas na televisão te marcaram mais?

R: Os cravos e as espingardas, sem dúvida.

P. Olhando para trás, terias regressado a Portugal se a ditadura não tivesse sido derrubada?

R: Tal como te disse, eu e o avô nunca quisemos fazer uma vida em França, por isso penso que sim. Mas claro que ter sido derrubada nos deixou mais positivos em relação ao nosso futuro.

Catarina, 12º F

*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Hoje é a madrugada que eu esperava"

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