P. Lembras-te de algum dia marcante do ano 1974?
R: É difícil não me lembrar do 25 de Abril, por muito que
estivesse emigrada em França com o teu avô, tocou-nos a nós também pois
tínhamos nos nossos planos voltar para Portugal.
P. Que idade tinhas e onde estavas?
R: Estava prestes a fazer 30 anos e, como disse, estava em França.
P. Disseste que estavas em França, como soubeste da notícia?
R: No meu tempo lá trabalhei para a “Madame Minare”, tomava conta
da sua casa. Era uma ótima empregada doméstica, a minha patroa costumava-me
dizer que nunca a sua casa tinha estado tão limpa e asseada (risos). Mas enfim,
como te estava a dizer, chegava todos os dias a horinhas, acordava sempre às
seis e meia da manhã para apanhar “le bus” às sete e meia e chegar às oito da
manhã certas. Enquanto trabalhava ouvia sempre uma rádio portuguesa que existia
em Paris, gostava de estar a par das notícias e gostava principalmente da minha
música portuguesa (também era a única que sabia cantar direito). Como não tinha
tempo para televisão, lá teria de me entreter com a rádio. Ainda me lembro,
estava eu a passar a ferro quando a música que estava a passar foi
interrompida. Foi assim que descobri a notícia. Ao final do dia, quando
regressei a casa, só tive tempo de pousar as minhas coisas e corri logo para
casa do meu irmão, que vivia no prédio atrás do nosso, para ver se passava alguma
notícia na televisão dele.
P O que significou para ti esta revolução?
R: Quando estávamos cá vivíamos mal, tínhamos pouco, por muito que
trabalhássemos ganhávamos pouco e tudo por causa do governo da altura. E quando
eu e o teu avô fomos para França, não fomos com a ideia de ficar lá para
sempre. Fomos com o objetivo de ter uma vida melhor para conseguir comprar um terreno
para construir uma casa e para construir também uma família. A revolução de 25
de Abril só fez com que ficássemos mais certos de voltar para Portugal e claro
que mais felizes, não só por nós, também pela família que tínhamos cá.
P. E para Portugal, o que achas que significou esta data?
R: Significou liberdade, principalmente a liberdade de expressão.
As pessoas começaram a poder falar sem medo de quem pudesse estar a ouvir, se
bem que ainda houvesse muita gente com receio; os jornais começaram a publicar
as notícias por inteiro, sem censura; já não havia livros proibidos nem cartas
que fossem abertas e revistadas. Para não falar dos salários que também
melhoraram imenso. Não duvido que tenha sido uma mais valia para o país.
P. Que imagens passadas na televisão te marcaram mais?
R: Os cravos e as espingardas, sem dúvida.
P. Olhando para trás, terias regressado a Portugal se a ditadura não
tivesse sido derrubada?
R: Tal como te disse, eu e o avô nunca quisemos fazer uma vida em
França, por isso penso que sim. Mas claro que ter sido derrubada nos deixou
mais positivos em relação ao nosso futuro.
Catarina, 12º F
*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Hoje é a madrugada que eu esperava"
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