quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Guerra de Palavras - Pedro Santos - 11º E

"Guerra de Palavras" foi um dos textos vencedores do Concurso de Escrita Era uma Vez..., dinamizado pela biblioteca escolar no âmbito da comemoração do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares. É um conto da autoria do Pedro Santos do 11º E.

Mas afinal quem é mais importante?! Era uma vez… UMA GUERRA ENTRE PALAVRAS.

As classes de palavras estavam envolvidas numa grande discussão sobre qual de elas seria a mais importante. Bom... Na realidade, algumas classes não estavam nada interessadas nesta conversa. 

- Psiuuuuu! Silêncio! – Pediu a Interjeição.

- Estou contigo. Meu Deus! Que barulheira! – Sublinhou o Determinante.

Indiferentes a estes comentários, as restantes classes reclamavam o seu valor.

- Eu, Sim! Sou o mais importante porque sou único e até tenho honras de letra maiúscula! Pacífico, Pedro, Portugal…. Mais ainda, sou eu que dou às coisas, aos animais, aos sentimentos… um Nome. Se eu não existisse, como chamarias ao objeto onde te sentas e ao que sentes quando estás triste? 

- Pois, triste! Vê-se logo que precisam de mim! Sem o Adjetivo que seria do léxico?! Sem beleza, sem detalhe, sem brilho, sem cor, sem atributos… Tudo se resumiria a ti, Nome! E tu, sozinho, pouco dizes. O que é uma cadeira? Apenas uma cadeira. E se for uma cadeira grande, robusta, castanha e moderna? Tudo fica mais claro, não acham? 

- Pois tu, Nome, muito me deverias agradecer já que às vezes sou eu quem te substitui. - Argumentou o Pronome. - Tu nem sempre estás lá, mas eu sim. Acho até que trabalho mais do que tu, logo, sou mais importante. 

- Que ousadia a de palavrinhas tão sem importância! Uma letra, uma sílaba, duas… vá! – Ironizou o Nome com ar altivo.

- Não te esqueças que por detrás dessas palavrinhas estás tu, seu Nome ingrato! – Respondeu novamente o Pronome ofendido. 

- Sim, sim Pronome, tu és eu, mas em segunda mão! Sem a minha retaguarda, quem te entende e te reconhece? E também não precisas de aparecer sempre, ao contrário de mim! Um Nome é um Nome e ponto final! 

- Querem mesmo meter ao barulho a pontuação? – questionaram os Sinais de Pontuação em uníssono.

- Vês meu caro Nome? Olha lá os cinco pronomes que acabas de utilizar. Eu salpico as frases com discrição, mas, estou sempre lá. – Retorquiu o Pronome.

- A não ser quando eu te anulo, caro Pronome! Eu sou o Verbo e contenho em mim próprio taaaanta informação! Além disso, faço o mundo andar: para trás, para a frente... Sem mim, tudo era estático, monótono, parado e aborrecido. Eu é que vos faço a todos girar! E, mais uma vez, precisas de mim, no princípio, no meio ou no fim. Dar-me-ás assim razão?

- Alto aí, Sr. Pronome! – Irrompeu o Advérbio. O Verbo precisa é de mim. Guarda-te lá para o Nome, que do Verbo trato eu. Sou eu quem expõe o modo e as circunstâncias da ação. Eu sou o teu fiel braço direito. Sem mim, tu, Verbo, terias tão pouco valor! Já imaginaste se não estivesse presente? O teu sentido iria por água abaixo! Abaixo, ouviste bem? Abaixo!

- Agora sim disseste tudo Advérbio! Ora exatamente: por água abaixo. Já paraste para refletir que eu, Preposição, sou quem, embora muito discretamente, está presente em quase todas as frases da nossa língua portuguesa? Na minha ausência, a vocês, estimados companheiros lexicais, mesmo que em grande sintonia, ninguém vos compreenderia! Envolvo-me com outras classes e estas dependem de mim. Tenho tantas contrações e dou à luz tantas palavras! – Argumentou a Preposição. - Mas, como já sabem, não compactuo com discussões! Prefiro ausentar-me, para que, de uma vez por todas, percebam que todos nós importamos igualmente, no papel e no discurso! 

- Não podia estar mais de acordo, Preposição! – anuiu a Conjunção. - Assim, proponho que nos ausentemos juntas. Não estando eu, as orações vagueiam sozinhas, muitas vezes sem nexo ou significado algum! Logo, a minha importância é imensurável! Quero vos ver comunicar sem a minha presença! 

- Caros leitores, agradecemos que nos omitam da vossa leitura a partir de agora. – Pediram a Preposição e a Conjunção.

  - Assim que, estava eu, Advérbio, muito pomposamente, a enaltecer a minha magnificência, quando sou interrompido?! Agora não me recordo onde ia!  Ah?! Isto soou muito estranho! – Indagou.

- Calem-se ou tiro-vos o Nome a todos! – Ordenou o Nome enfurecido. - Podes ter sido interrompido Advérbio, mas o que tinhas a dizer não seria de grande importância com certeza. Sabes que eu sou o rei da variedade!  Possuo uma flexibilidade como mais ninguém!! Neste instante posso estar só, mas num ápice pluralizo-me!!  Sou também muito moderno pois mudo até de género!! Além disso sou extremamente vasto e nada finito. Afinal, todos os novos objetos e invenções precisam de um nome, verdade? – Concluiu. - O quê?! Não era bem isto que eu queria dizer... 

- Mas o que é que se está a passar afinal?! Que grande confusão! Ninguém consegue falar acertadamente!  Será pela ausência da Conjunção e da Preposição?! Bastou isso para causar tamanho caos? – perguntou o Adjetivo.

- Finalmente alguém sente a nossa falta! Lá se foram os ares de superioridade. – Responderam a Preposição e a Conjunção.

- Basta! Tinha dito que não me intrometeria, mas já não aguento mais tanta discussão. Arre! – Impacientou-se a Interjeição.

- Dez classes de palavras somos nós e todas somos muito importantes pois todas formamos esta frase para acabar com tremenda discussão, ufa! - Fez-se ouvir o Quantificador que estivera em silêncio até então. – Mas, já agora estimado Nome…, de valor e importância ou no que cabe a esse quesito, se a Ciência não me engana, sou, de todos, o mais infinito. E tenho dito!

E, antes que continuasse esta inútil discussão, ouviu-se uma forte pancada: Pum! Talvez uma outra batalha com um outro grupo de palavras.  


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