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Que
linhas unem um imigrante que lava vidros num dos primeiros arranha-céus de Nova
Iorque a um rapaz misantropo que chega a Lisboa num navio e a uma criança que
inventa coisas que depois acontecem? Muitas. Entre elas, as linhas que
atravessam os livros. Em 1910, a passagem de dois cometas pela Terra semeou uma
onda de pânico. Em todo o mundo, pessoas enlouqueceram, suicidaram-se,
crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram, caladas e vencidas, aquilo que
acreditavam ser o fim do mundo.
Nos dias
em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance - três
homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal,
com mais dentro de si do que podiam carregar.
Apesar de
separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas
afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram
e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os
seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas,
estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo.
Cem anos
depois, ainda não esquecemos nenhum deles.
Escrito
numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à
literatura, No Meu Peito não Cabem Pássaros é um romance de
estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas,
que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens.
O
escritor Nuno Camarneiro decide viajar até uma zona de guerra no Médio-Oriente
para melhor entender as razões do conflito e de quem nele participa,
juntando-se a um jornalista turco. Mas o que começa por ser uma visita de
estudo transforma-se rapidamente num pesadelo, quando ambos são sequestrados
por um grupo de fundamentalistas islâmicos e encerrados num barracão que
partilham com outras vítimas: uma freira ortodoxa, um engenheiro holandês, um
soldado americano e um francês misterioso e suicida.
Ao longo
de várias semanas, terão de encontrar estratégias de sobrevivência para não
enlouquecerem nem perderem a esperança: contam histórias, revisitam memórias,
inventam jogos e vidas inteiras, tornam-se guerrilheiros da ficção.
Numa guerra entre homens, ideias, deuses e
civilizações, não há partes neutras, e é difícil distinguir as vítimas dos
agressores. A verdade escreve-se em muitas línguas, como as histórias, os
romances e os sonhos de cada um.
«Um hotel
é um mundo pequeno feito à imagem do outro maior. Nós garantimos que a escala
permaneça justa, sem nada aumentar ou reduzir. Não nos peçam para corrigir o
que vai torto ou torcer o que anda certo. Servimos os nossos hóspedes e
damos-lhes a importância que merecem, ou que podem pagar. O resto pertence à
justiça ou à igreja, não somos juízes nem padres. Somos artífices do detalhe e
da memória, e não nos peçam mais.»
Num
grande hotel, as paredes têm ouvidos e os espelhos já viram muitos rostos ao
longo dos anos: homens e mulheres de passagem, buscando ou fugindo de alguma
coisa, que procuram um sentido para os dias. Num quarto pode começar uma
história de amor ou terminar um casamento, pode inventar-se uma utopia ou
lembrar-se a perna perdida numa guerra, pode investigar-se um caso de adultério
ou cometer-se um crime de sangue.
Em três épocas diferentes, entre guerras que
passaram e outras que hão-de vir, as personagens de Se Eu Fosse Chão -
diplomatas, políticos, viúvos, recém-casados, crianças, actores, prostitutas,
assassinos e até alguns fantasmas - contam histórias a quem as queira escutar.
Num prédio encostado à praia, homens,
mulheres e crianças - vizinhos que se cruzam mas se desconhecem - andam à
procura do que lhes falta: um pouco de paz, de música, de calor, de um deus que
lhes sirva. Todas as janelas estão viradas para dentro e até o vento parece
soprar em quem lá vive. Há uma viúva sozinha com um gato, um homem que se
esconde a inventar futuros, o bebé que testa os pais desavindos, o reformado
que constrói loucuras na cave, uma família quase quase normal, um padre com uma
doença de fé, o apartamento vazio cheio dos que o deixaram. O elevador sobe
cansado, a menina chora e os canos estrebucham. É esse o som dos dias, porque
não há maneira de o medo se fazer ouvir.
A semana em que decorre esta história é
bruscamente interrompida por uma tempestade que deixa o prédio sem luz e
suspende as vidas das personagens - como uma bolha no tempo que permite pensar,
rever o passado, perdoar, reagir, ser também mais vizinho. Entre o fim de um
ano e o começo de outro, tudo pode realmente acontecer - e, pelo meio, nasce
Cristo e salva-se um homem.
Embora numa cidade de província, e à
beira-mar, este prédio fica mesmo ao virar da esquina, talvez o habitemos e não
o saibamos.
Com
imagens de extraordinário fulgor a que o autor nos habituou com o seu primeiro
romance, Debaixo de Algum Céu retrata de forma límpida e comovente o purgatório
que é a vida dos homens e a busca que cada um empreende pela redenção.
A Rita é
uma menina que não pára quieta e está na idade dos porquês: quer saber onde é
que mora o papão, onde dormem os pardais e para onde vão os sonhos quando as
pessoas acordam. Os pais, já cansados de um dia inteiro de trabalho, respondem
que o papão mora no sótão, que é também onde dormem os pardais e os sonhos vão
depois de as pessoas acordarem. E não é que a Rita vai ao sótão, trava
conhecimento com o Papão - que, afinal, é um medricas -, vê as festas que os
pardais fazem todas as noites e encontra caixas e caixas com sonhos guardados?
Agora são os pais que não querem acreditar.