terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Filme do Desassossego



A digressão do "Filme do Desassossego", de João Botelho, inspirado no "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, chega a Viana do Castelo no dia 7 de Dezembro, terça-feira. No Teatro Sá de Miranda terá lugar uma das apresentações do “Filme do Desassossego” produzida como se de uma estreia se tratasse, contando com a presença do realizador e de alguns actores do filme e compreende sessões duplas: - uma para o público em geral [21:30] e uma outra para o público estudantil [14:30], conforme consta da "nota de digressão" divulgada na página do filme.

Página do Filme do Desassossego >>
Livro do Desassossego, Bernardo Soares/Fernando Pessoa >>

8 comentários:

  1. «Os esclarecimentos do realizador no início do filme foram fundamentais para a sua compreensão, especialmente para aqueles que não leram o livro, visto o texto constituir a personagem principal.»

    «Apesar da densidade de textos, a expressividade da fotografia contribuía para a interpretação das cenas.»

    «O olhar profundo e penetrante da personagem Bernardo Soares seduz o espectador.»

    «O início e o fim do filme estabelecem uma relação de união/disjunção entre o sonho e a realidade do universo Pessoano»

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  2. Cátia Teixeira - 12ºA17 de dezembro de 2010 às 14:56

    O realizador João Botelho tentou proporcionar-nos os sentimentos de Fernando Pessoa: a "dignidade do tédio", a fúria, a inquietação, o receio, a agitação, a perturbação e o alvoroço, que caracterizam o desassossego.
    O bom fluir da história apenas foi quebrado, na minha opinião, pela cena musical (Ópera).

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  3. Tal como o realizador informou, este filme não é um filme comercial, como os filmes a que habitualmente assistimos.
    Talvez por esse facto o filme tenha sido um pouco maçador, o que dá a entender que a nossa geração não está preparada e interessada em assistir a uma obra de arte.
    O nosso conhecimento sobre a obra de Bernardo Soares é pouco, o que limitou a nossa compreensão das falas das personagens. Contudo, conseguimos detectar algumas características dos heterónimos estudados na aula de Português.
    Gostaríamos de felicitar os actores pela excelente prestação e o staff técnico por incluir na película excelentes cenários com grandes contrastes de sombras.

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  4. Rafael Azevedo - 12º F20 de dezembro de 2010 às 17:49

    A adaptação de um livro composto por tantos fragmentos ideológicos e sensoriais, como no caso do Livro do Desassossego de Bernardo Soares, apresenta sempre uma certa complexidade, mas nada que não possa ser transmitido pela materialização através de imagens e de uma adequada actuação. O filme do Desassossego conseguiu, na minha perspectiva, abordar e representar questões filosóficas com maestria. Toda a referência ao significado da vida e da morte, isto é, a grandiosidade de ambos e ainda o posicionamento crítico face à natureza do ser humano captaram inteiramente o meu interesse. É incrível a qualidade dos textos mencionados pelas personagens, a forma como foi abordada a condição humana, a perseguição pela felicidade e pela concretização de sonhos, acima das classes sociais e também a representação da interligação entre o sonho e a realidade, o limite quase inexistente entre eles.
    Em geral, o filme foi agradável, embora tenha sido um pouco monótono e exagerado na ópera. Aquilo que me surpreendeu foi o facto de apesar do filme tratar de fragmentos soltos, como um todo fez muito sentido, sem haver qualquer atmosfera de confusão.

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  5. De um modo geral, considero que o filme do "Desassossego foi bastante bem conseguido.

    É importante salientar a dificuldade em transpor o conteúdo subjectivo e vasto de um livro para um simples filme de uma hora e meia. Neste filme em particular, esse obstáculo ainda se acentua mais visto que o realizador necessitou de criar uma longa metragem a partir de várias situações oriundas de meros pensamentos soltos. Apesar desta grande limitação, João Botelho foi capaz de promover todo um envolvimento e uma certa ligação subjacente aos vários momentos decorrentes deste filme.

    Contudo, existem algumas cenas que aparentam ser um pouco descontextualizadas para aqueles que não possuem algum conhecimento da obra, designadamente a passagem da Ópera, que acaba por consumir o espectador dada a sua extensão.

    Em suma, penso que o objectivo do realizador foi alcançado, na medida em que permite uma elucidação do conteúdo da teoria dos sonhos, transmitindo claramente ao público todo o tédio e fúria vivenciados, que resultam num "Desassossego".

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  6. O Filme do Desassossego, para além de valorizar o cinema português, retrata “pedaços” de um grande livro.
    No fim do filme a minha vontade, tal como acredito que foi a da maior parte das pessoas que assistiram ao filme, foi ler imediatamente o “Livro do Desassossego”.
    Na minha opinião o filme é fantástico e original, juntando um grande autor com um realizador de excelência.
    Espero que com este filme se passe a valorizar mais a arte cinematográfica em Portugal e o próprio Fernando Pessoa.

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  7. Na minha opinião o "Filme do Desassossego" constituiu uma produção cinematográfica extremamente arrojada e inovadora, não só pelo facto de o filme se basear na reconstituição de fragmentos do "Livro do Desassossego" de Bernardo Soares (semi-heterónimo de Fernando Pessoa), mas também pelo prazer visual e auditivo que foi proporcionado a quem assistiu o filme.
    A verdade é que, apesar da dificuldade em criar um filme apartir de textos soltos de um livro que já foi várias vezes organizado, o realizador João Botelho, a meu ver, conseguiu fazer com que o filme não fosse demasiado monótono e denso, sendo também bem sucedido ao transmitir ao público as vivências, interrogações e reflexões de Bernardo Soares.
    Quero ainda destacar a interpretação de Claúdio Silva que encarnou o papel de Bernardo Soares admiravelmente bem, conferindo-lhe veracidade. Realço também positivamente a qualidade da imagem,da música e a escolha dos cenários, que foi no momento da Ópera extremamente requintado. Contudo, penso que esta cena foi um pouco longa, sendo para mim a segunda parte desnecessária.

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  8. Embora concorde com as opiniões já formuladas, penso que dada a complexidade deste filme como obra,independente do livro, e como entidade paralela e contextualizada neste, a obra deve ser avaliada de forma diferente nestas vertentes.
    Como obra cinematográfica, e considerando a priori que não podem ser utilizados referenciais comerciais, o filme encontra obstáculos inerentes à profundidade e fragmentação do argumento, à inexistência de um fio condutor narrativo(que poderia ser útil dada a complexidade da linguagem), e à utilização da prosa textualmente transcrita do original "Livro do Desassossego".
    A multiplicidade da experiência sensorial que é o filme no âmbito fotográfico, o caleidoscópio de cores, luzes, cenários, as sonoridades ricas e profusamente exploradas na melodia e na articulação da palavra, a entrada e saída de cena de vultos e personagens, a profusa variação dos seus estados de espírito e emoções, foram auxiliares à ilutração do imaginário do texto que era, afinal, a sua personagem principal, mas foram, também, quando em exagero, obstáculos à sua compreensão.
    Assim sendo, creio que o filme resulta melhor como parte de um conjunto em que a leitura da obra, reflexiva sobre os insidiosos significados que esta pode apresentar-nos, pode ser complementada por uma visão ilustrada da perspectiva do realizador sobre a mesma, considerando que esta não deve anular, ou condicionar a nossa interpretação.
    Pessoalmente considero que face ao livro o filme não conseguiu transmitir a sensação que dominou a minha primeira leitura do mesmo: o próprio desassossego, uma inquietação, um incómodo, uma sensação constante e sufocante de não-pertença na realidade, de desencaixe, sem grandes fúrias, sem grandes desgostos, como se toda a existência do seu sujeito fosse inclassificável, inorganizável, inconcebível.

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