sábado, 13 de março de 2021

K.Leio: as mais importantes mulheres da nossa vida

 


Textos dos alunos do Clube K.Leio/12º F sobre mulheres de relevo nas suas próprias famílias. Um desafio da professora Fátima Lopes (disciplina de História).

“Catarina, descreve o que para ti significa ser mulher”. Ao que eu respondo, forte e segura de si mesma. Decidida; certa do seu valor, mas sempre honesta e humilde. Alguém que não tem medo de arriscar, de desenhar o seu próprio caminho. Alguém com defeitos, pois ninguém é perfeito, mas sempre pronta a melhorar. Ser mulher é alguém que por muito que vá abaixo, consiga subir ainda mais alto. Ser mulher é ser a minha Mãe. E porquê? Porque a sua história de vida, se fosse convertida num livro, seria um best seller.  

                Ao contrário de mim, a minha mãe nunca mostra quando algo a magoa. Não creio que o faça por si mesma, mas pelos seus. Se houver algo com a capacidade de a prejudicar não vai mostrar raiva, nem medo, muito menos tristeza. Vai sorrir e dizer “vai tudo correr bem, a chuva é necessária para fazer as flores crescer”. E, sinceramente, se eu tivesse passado por metade do que ela passou, o mais provável seria que tanta chuva me tivesse inundado.

                Os meus avós maternos sempre foram portugueses humildes. Oriundos de famílias pobres, sempre deram valor a tudo o que lhes foi dado. No entanto, não era uma infância assim que desejavam para as suas três filhas. Foi em 1972 que, juntos, viajaram para França em busca de um futuro melhor. Um ano mais tarde tiveram a sua primeira filha- a minha mãe. Os anos foram passando sem quaisquer percalços, até ao verão de 1986- verão esse no qual a minha mãe foi obrigada a crescer demasiado rápido. É normal uma criança não dar conta de tudo o que se passa à sua volta e a minha mãe não foi exceção, o que fez com que fosse um choque ainda maior quando o rumo da sua vida foi obrigado a mudar e os meus avós a enviaram para Portugal, para que começasse a construir o seu futuro. Doze anos e as mudanças foram tantas. Ainda hoje me conta que foi tudo muito assustador: nova língua, novas pessoas, nova casa. E o pior de tudo foram as saudades.  

A minha mãe cresceu. Fez inúmeras amizades. Amizades essas foram deixadas com o passar dos anos e outras ainda hoje fazem parte da sua vida. Ao início foi difícil, mas a partir do momento que aceitou a verdade e começou a viver, tudo ficou mais fácil- até ao retorno dos seus pais e irmãs. Por um lado, ficou felicíssima por ter a sua família de volta; por outro, começou-se a sentir como um pássaro numa jaula. Com o meu avô a viver debaixo do mesmo teto, a liberdade já não era tanta e, infelizmente para ele, a minha mãe sempre foi uma mulher independente. Muita coisa mudou, principalmente o facto de a ter mudado de escola o que, consequentemente, fez com que perdesse muitos dos seus primeiros amigos em Portugal. Com tantas regras novas, com tantas mudanças, a minha mãe já só pensava nos seus 18 anos.

Desistiu da escola com 15 anos e, com essa mesma idade, começou a trabalhar. Atingindo a maioridade, saiu de casa e foi viver com umas colegas da fábrica na qual trabalhava. Se sentiu saudades de viver com o meu avô? Estou segura de que não. Os anos foram passando e, com 22, conheceu o homem com quem hoje está casada, o meu pai. Juntos viveram imensas peripécias e começaram a construir uma vida juntos. Em 1999, a dupla virou trio com o nascimento do meu irmão. E, em 2003, fiz com que formássemos um quarteto. Se há algo que a minha mãe faz melhor que ninguém é lutar pelos seus sonhos e esses sonhos implicavam que continuasse os estudos. Lembro-me de ser criança e ver a minha mãe a estudar no meu quarto de noite- dava-me um segurança enorme adormecer sabendo que ela estava ao meu lado. Proporcionaram-nos uma infância ótima e estava tudo a correr bem até 2010.

A minha mãe faz-me acreditar que as piores coisas acontecem às melhores pessoas. Em maio de 2010, numa segunda-feira, detetou um “caroço” na mama. Se fosse eu entrava em pânico, a minha mãe não. Levou-nos à escola e, chegando ao trabalho, ligou para o centro de saúde a marcar uma consulta. Sabia bem do que se tratava e, tal como disse no início deste texto, a única coisa que eu e o meu irmão víamos na cara dela era um sorriso e uma expressão de conforto. O processo foi igual ao de tantas outras mulheres: o cabelo caiu-lhe, usou uma peruca e, quando se sentiu confortável, parou de a usar. Ainda hoje me lembro do momento em que se sentou ao meu lado e tirou a peruca à minha frente. Estaria a mentir se dissesse que não foi estranho para mim, ainda para mais não sabendo bem o significado da palavra “cancro”, mas só fez com que a achasse ainda mais linda e com que a amasse ainda mais, se é que era possível.  Felizmente correu tudo bem, a minha mãe sempre foi uma mulher de armas.

Passaram três anos, até que outro quisto foi detetado e, em 2018, de novo o mesmo problema. A minha mãe não se deixou levar e lutou, por ela e por nós. “A chuva é necessária para fazer as flores crescer” e ela cresceu tanto! Tudo aquilo que enfrentou e que continua a enfrentar só a tornou mais forte e, hoje, tem muitos dos seus sonhos realizados e dos seus objetivos cumpridos.

Este best seller não seria um conto de fadas, seria a história de uma mulher que nunca seguiu ninguém, que tenta todos os dias ser o melhor de si mesma e que luta para proporcionar aos seus uma vida repleta de felicidade. Por isso sim, ser mulher é ser a minha mãe e eu só espero ser tão mulher quanto ela.

Sem comentários:

Enviar um comentário