domingo, 18 de abril de 2021

Onde estava no 25 de abril?

 

Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*.

Entrevista à minha avó Maria das Dores Sá de Miranda de 81 anos.

1. Onde estavas no 25 de Abril?

Olha minha neta, no dia 25 de Abril estava grávida de oito meses da tua madrinha a trabalhar no campo a arranjar os legumes para mais tarde ir vender no mercado.

2. Como te apercebeste que estava a acontecer uma revolução?

Como te disse anteriormente, estava no campo, eu e mais algumas mulheres porque vendíamos todas juntas no mercado. Lembro-me que havia uma senhora que adorava ouvir rádio, andava com ele sempre para trás e para a frente. Foi através da rádio, se não estou em erro, que soube que a revolução estava a acontecer.

3. O que pensavas do regime político em que vivias?

A meu ver e na minha modesta opinião não foi, de todo, um regime em que eu gostasse de viver. Foram anos terríveis, uma pessoa tinha medo de conviver ou de dizer algo que nos pudesse denunciar à polícia. Gosto de me sentir livre e com esse regime de Salazar nunca o senti, daí dizer-te que não foi um regime que eu aprovasse.

4. Alguma vez pensaste em sair de Portugal?

A resposta para essa pergunta é um imediato sim vezes sem conta! Pensei claro, e queria muito. Nesta altura vi os meus irmãos a fazê-lo, mas eu não fui capaz de ir com eles. Acho que naquela altura considerei que tinha coisas importantes que me “prendiam” a Portugal apesar de estar descontente com o regime. Tinha a minha família toda aqui e claro que com a minha condição de grávida não era aconselhável na altura fazer viagens longas, estava mesmo no fim do tempo quando os meus irmãos decidiram ir, creio que foram para França, mas já não me recordo bem.

5. O que te levou a ponderar sair de Portugal?

Queria sobretudo fugir um pouco a este regime, a censura que havia (nos programas de televisão, nos livros...) e a perseguição que se sentia foram algo que naquele tempo, considerei um atentado à minha própria liberdade, parecia que alguém estava a viver a minha vida. Não me sentia de todo representada por aquele regime por isso pensava como seria viver em outro lugar.

6. A teu ver, os portugueses estavam prontos para esta revolução? E quanto a ti, consideravas-te pronta para as mudanças que o país iria viver?

Sem dúvida, a meu ver considerava os portugueses, no geral, prontos para a revolução e eu era a mais pronta de todos. Posso dizer que já me considerava desesperada por uma mudança assim. Acredito que havia muita gente com o mesmo pensamento e com a mesma vontade de mudança pois, tal como eu, não sentiam que o regime os representasse.

7. O que mudou, para ti, com a revolução de 25 de Abril?

Mudou muita coisa, fazia-me bastante confusão a parte da censura como já te expliquei antes e o facto de a revolução ter posto um fim à censura foi magnífico, ter uma Imprensa livre foi uma vitória. Mas o que mais me marcou nestas mudanças foi o facto de ter acabado a polícia política e a liberdade de expressão tomar o seu lugar. Senti que pela primeira vez em anos podia sair à rua sem ter a sensação de que poderia estar a dizer algo que me levasse em direção à cadeia e isso foi uma das melhores sensações que eu senti naquele tempo.

8. Achas que o 25 de Abril foi bom ou mau para Portugal? O que te leva a responder assim?

Eu considero que foi mesmo muito bom para Portugal que esta revolução tenha acontecido. Não quero de todo imaginar o que seria voltar àqueles tempos, a vida era má e se eu não me revia no regime vigente não o achava bom, até pelo contrário.

Raquel Pinheiro 12ºF

*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Esta é a madrugada que eu esperava"

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