segunda-feira, 4 de outubro de 2021

MIBE 2021: A Aventura de Chu


Publicamos durante o mês de outubro uma recolha de contos feita no âmbito da comemoração do Mês Internacional da Biblioteca Escolar.

A aventura de Chu

- China -

Era uma vez dois amigos que viajavam pelo mundo. Heng e Chu passaram por países desconhecidos, rios, vales e montanhas. 

Um dia, quando atravessaram uma floresta, viram que logo ia desabar uma tempestade. Procuraram abrigo e viram ao longe um velho templo em ruínas. Correram para lá e foram recebidos por um velho monge muito sorridente.

O monge disse-lhes:
- Amigos, quero que vocês me acompanhem até à sala dos fundos do templo. Lá está representada uma obra de arte como não existe igual. Venham ver o bosque de pinheiro que está pintado na parede do fundo do templo.

Ele virou-se e foi devagar, arrastando os chinelos. Os dois seguiram-no. Quando chegaram à última sala, ficaram maravilhados. De facto, era uma magnífica obra de arte. Começaram a andar desde o começo da pintura, observando as árvores de todos os tamanhos e tons de verde. Perceberam que além dos pinheiros havia outras figuras, montanhas ao fundo, um sol dourado iluminando o céu, jovens em grupos, em pares, conversando, colhendo flores.

Chu ia na frente e, quando chegou bem no meio da parede, parou. Ali estava uma jovem tão linda que o deixou boquiaberto. Era alta, elegante, os olhos negros pareciam duas jabuticabas, a boca era como um morango maduro; tinha um cesto no braço, colhia flores e os seus cabelos eram longos e negros, penteados em duas grossas tranças até à cintura. Chu apaixonou-se imediatamente por ela e ficou ali parado, contemplando cada detalhe daquela jovem tão bela.

Chu não sabe quanto tempo ficou ali, até que de repente sentiu como se estivesse a flutuar, os seus pés não tocavam o chão. Olhou à sua volta e viu um sol dourado iluminando o céu, ouviu vozes e percebeu que eram das jovens que ele tinha visto pintadas na parede. Foi então que se deu conta de que estava dentro do quadro.

Quando se refazia do susto, viu a jovem de quem tinha gostado, um pouco mais adiante. Ela olhou para ele, sorriu, atirou as tranças para trás e saiu a correr. Ele seguiu-a até que ela chegou a um jardim cheio de pequenas flores coloridas, que ficavam em volta de uma casa toda branca. Ela atravessou o jardim e parou à frente da porta. Quando Chu se aproximou, eles entraram e ficaram parados em pé, um diante do outro, bem no meio daquele aposento silencioso. Eles abraçaram-se, e Chu sentiu que amava aquela jovem como se fosse desde sempre. Então, eles foram para a cama, e, na manhã seguinte eram marido e mulher. A jovem levantou-se e foi pentear os longos cabelos, mas agora não fez as duas tranças, e sim um coque na nuca, como era o costume das mulheres casadas.

Enquanto conversavam, ouviram barulhos estranhos lá fora, passos pesados, som de correntes. A jovem ficou pálida, fez um sinal para Chu não dizer uma palavra. Foram até a uma fresta da porta e espiaram para fora. Viram um ser descomunal, inteiramente vestido com uma armadura de ferro. Com os olhos ameaçadores, ele carregava nas mãos um chicote, grilhões e uma corrente.

Ele disse para as jovens do quadro que estavam à sua volta, apavoradas:

- Afastem-se. Sei que há um ser humano entre nós, não adianta esconder. Agora vou vasculhar dentro da casa, tenho certeza de que ele está lá.

A jovem ficou mais pálida ainda e disse:

- Chu, depressa, esconda-se embaixo da cama, não dá tempo de mais nada. Chu mal teve tempo de correr para debaixo da cama quando viu a porta abrir-se. Duas botas de ferro entraram para dentro do quadro.

Enquanto isso, Heng olhava o quadro e deu por falta do amigo.

Perguntou ao velho monge onde ele estava e o velho respondeu:

- Não se preocupe, ele não está muito longe não.

Batendo com os dedos na parede, chamou com voz tranquila:

- Volte senhor Chu. Já é tempo de encontrar o seu amigo outra vez!

Neste momento, Chu foi saindo de dentro da parede.

- Onde esteve? – perguntou Heng.

- Eu não sei – disse ele.

– Estava embaixo da cama, ouvi um barulho terrível, saí para ver o que era e sem saber como, cheguei novamente à sala.

Os dois amigos voltaram a olhar para o quadro desde o início para se despedirem dele. Chu ia à frente; quando chegou no meio da parede, aquela jovem estava lá. Alta, elegante, os olhos como duas jabuticabas, a boca lembrava um morango maduro e ela colhia flores. Mas os seus cabelos não estavam mais penteados em tranças, agora eles formavam um coque na nuca, como era o costume das mulheres casadas, naquele lugar. Os dois amigos desceram as escadarias do templo em silêncio.

A chuva já tinha parado e eles foram embora sem dizer uma palavra. A viagem continua.

Desconhecido

Recolha de contos feita pela equipa da Biblioteca Escolar 

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