Publicamos durante o mês de
outubro uma recolha de contos feita no âmbito da comemoração do Mês
Internacional da Biblioteca Escolar.
Hansel und Gretel
- Alemanha -
Uma terrível seca devastara as suas colheitas e, como mal tinham alimentos para passar o inverno, decidiram abandonar os meninos na floresta.
– Talvez sozinhos tenham mais sorte… – decidiram os pais.
Nessa noite, os camponeses deitaram-se com uma imensa tristeza.
Os dois irmãos, que estavam acordados, ouviram a conversa toda.
Primeiro sentiram-se aterrorizados, mas depois Hansel teve uma boa ideia: foi lá fora e encheu os bolsos de pequenas pedras.
Na manhã seguinte levantaram-se muito cedo. Antes de saírem, a mãe deu-lhes um pedaço de pão.
Hansel foi deixando cair as pedrinhas à sua passagem. Chegados a uma clareira da floresta fizeram uma fogueira. O pai, com pesar, disse:
– Não saiam daqui. Nós temos de apanhar lenha para o inverno todo.
Hansel e Gretel aqueceram-se junto à fogueira e colheram as últimas framboesas do outono. O seu sabor recordava-lhes os doces que a mãe fazia nos dias de festa.
Ao cair a noite decidiram voltar para casa.
A Lua iluminava o caminho de pedras que lhes servia de guia.
Quando bateram à porta, os camponeses ficaram muito contentes por voltarem a ver os filhos, e deram-lhes a única coisa que tinham para comer: sopa quente.
Durante algum tempo viveram felizes, até que uma inundação acabou com o pouco que restava. Na despensa não havia mais que umas côdeas de pão.
– Se continuamos assim morremos os quatro à fome – disse a mulher. – Temos de abandoná-los de novo e esperar que tenham um futuro melhor.
Os meninos, que não conseguiam dormir por estarem famintos, voltaram a ouvir a conversa.
Hansel quis novamente ir buscar pedras, mas a porta estava fechada à chave.
– Havemos de ter alguma ideia – disse à irmã.
Na manhã seguinte os camponeses partilharam o pão e foram até à floresta.
Hansel foi deixando cair umas migalhitas para marcar o caminho.
De novo, os dois irmãos ficaram sozinhos junto à fogueira.
Ao anoitecer quiseram regressar a casa mas… os pássaros tinham comido o pão todo! Muito tristes, puseram-se a andar, sem rumo.
De súbito, o vento trouxe-lhes um cheirinho agradável…
– Cheira a doce? – perguntou a Gretel.
– Sim! Às bolachas que a mamã fazia no Natal! – recordou Gretel.
Num abrir e fechar de olhos chegaram a um lugar onde estava a coisa mais maravilhosa que eles alguma vez tinham visto: uma casa com telhado de chocolate, paredes de maçapão, janelas de rebuçado, portas de goma… Um autêntico manjar!
– Gretel, vou comer o teto! Tu, podes começar pelas janelas! – exclamou Hansel.
Estavam tão extasiados que nem repararam que alguém os estava a observar…
De repente, a voz aterradora de uma bruxa deixou-os paralisados:
– Que estão a fazer, seus pirralhos?
– É que… ti… ti… tínhamos fome e… – balbuciou Gretel.
– Eu também estou esfomeada! E como vocês comeram a minha casa, agora vou comer-vos aos dois!
Os meninos ficaram petrificados.
Hansel deu a mão à irmã e sussurrou com voz trémula:
– Havemos de ter alguma ideia…
A bruxa arrastou-os para o interior da casa murmurando:
– Este miúdo… cabe na cova de um dente! Terei de engordá-lo…
Fechou Hansel numa gaiola e obrigou Gretel a ajudá-la com as suas poções.
A casa estava cheia de estátuas estranhas que pareciam vigiar tudo o que se passava.
Gretel todos os dias levava comida ao irmão enquanto a bruxa dizia:
– Quando estiver gordinho, irei assá-lo bem assadinho. AH, AH, AH!
Hansel tranquilizava a irmã:
– Havemos de ter alguma ideia!
Gretel, que conhecia bem as propriedades das plantas, rapidamente se apercebeu de que a bruxa era pitosga e que a poção que preparava era para ver melhor. Assim, decidiu trocar os ingredientes.
– Cada dia vejo menos – protestava a bruxa.
À noite, antes de se deitar, aproximava-se da gaiola e dizia:
– Mostra-me o dedo, para ver o quanto engordaste.
Hansel mostrava-lhe sempre o mesmo osso de frango e ela rosnava:
– Mas… como é que isto pode ser? Todo o dia a comer e continuas magro como um cão!
Aquela artimanha funcionou durante várias semanas, até que um dia a bruxa acordou de mau humor e pensou:
Já estou cansada de esperar! Mesmo que ele não tenha muita carne, os ossos darão para uma bela sopa…
Impaciente, ordenou a Gretel:
– Prepara o forno!
– Estou a mexer a poção – respondeu a menina. – Quer que a deixe assim?
A bruxa pensou que a poção também era importante e aproximou-se do fogão para preparar as brasas.
Como não via bem, meteu a cabeça dentro do forno.
Então Gretel empurrou-a com todas as suas forças e… zás!, fechou a porta.
A malvada da bruxa começou a arder e transformou-se numa nuvem de fumo que invadiu a floresta.
Para libertar o irmão, Gretel puxou-o com tanta força que Hansel saiu disparado da gaiola e partiu uma das estátuas que decoravam a sala.
Ao aproximar-se viu que no seu interior havia… pedras preciosas!
Gretel partiu outra: tinha moedas de ouro!
E mais outra: estava repleta de brilhantes!
Depois de carregarem o tesouro na carruagem da bruxa, Gretel levou consigo o livro de receitas de poções, e Hansel várias telhas de chocolate. Com o estômago cheio seria mais fácil encontrar o caminho de regresso.
Ao cair a noite chegaram a casa.
Os pais, reconheceram logo as vozes deles e, emocionados, saíram à rua para os receber:
– Ai, que saudades vossas!
Os meninos contaram-lhes tudo o que tinha acontecido e mostraram-lhes o tesouro da bruxa.
A partir daquele dia, nunca mais ninguém voltou a passar fome naquela região.
E desde então, todas as noites, sentavam-se os quatro em redor da lareira para partilharem uma bela chávena de chocolate quente.
Recolhido pelos irmãos Grimm
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