sexta-feira, 23 de abril de 2021

Onde estava no 25 de abril?


Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*

Entrevistadora: Maria Matos
Entrevistado: Frederico Nunes (avô)

Quando é que se deu conta que aquele era um dia diferente OU que estava a acontecer alguma coisa diferente?

R: Nessa altura era condutor de ambulâncias na tropa. Tinha sido destacado para levar dois doentes a Lisboa, no local onde paramos para descansar ouvimos alguns murmúrios sobre a possibilidade de estar a decorrer um Golpe de Estado. No regresso ao Porto junto à rotunda da Boavista deparei-me com as ruas preenchidas por militares e habitantes, no entanto estavam todos bastante alegres e festejavam.

O povo tinha direito a votar durante o Estado Novo?

R:O Estado Novo foi marcado por ser antidemocrático, antiliberal, conservador e colonialista.
Do que me lembro os votos eram feitos entre o círculo por dentro do Estado Novo. Não me lembro de votar durante o mesmo, pois nem todas as pessoas podiam votar. Existia perseguição aos partidos e aos opositores, somente o partido do governo tinha autorização para funcionar e até os sindicatos eram perseguidos. Portanto não existia liberdade de escolha.

Existiam partidos políticos como agora ou só se podia votar nos nomes apresentados pelo regime?

R: Só se podia votar nos nomes apresentados pelo regime, existiam alguns partidos políticos como por exemplo o PC (comunista), no entanto eram clandestinos.

Como explica que a ditadura tivesse durado 40 anos?

R: Na minha opinião foi devido à repressão da PIDE perante o povo, mas também devido às pessoas que estavam sempre prontas para ouvir e acusar quem se manifestasse contra o regime, eram apelidadas de “bufos” e contribuíam para o medo das pessoas se manifestarem e causar a divisão do povo, isto ajudou a que a ditadura demorasse a terminar.

Sabe se os programas de rádio eram censurados?

R: Eram todos censurados, mas lembro-me de ouvir «A voz da Liberdade» que era transmitido penso eu dos Estados Unidos que falava mal da ditadura. Também me lembro de ter o cuidado de usar um copo de água em cima do rádio para abafar o som; sempre que ouvia algum barulho certificava-me de que não havia ninguém a ouvir nem à espreita, tinha muito medo de ser apanhado.

Deu-se conta de haver muita gente a emigrar? O que levava os portugueses a sair do país?

R: Oficialmente ninguém emigrava era tudo clandestino/fugido. O que levava e sair do país era a miséria existente, os baixos salários e condições de vida, lembro-me de ver a minha primeira televisão só aos 9 anos de idade. Lembro que o povo de Cabo Verde podia emigrar legalmente, mas não sei porque razão.

Parece-lhe que o povo português estava preparado para a Revolução de Abril?

R: Não tenho muita certeza disso, não sabíamos exatamente o que significava a liberdade, estávamos ansiosos de saber, como nunca a tínhamos vivido era difícil perceber como usufruir da mesma. Tanto eu como os meus amigos achávamos que a liberdade era uma «maluquice», mas com o tempo percebemos que não era bem assim.

Depois da revolução o país teve alguma dificuldade a organizar-se politicamente?

R: Sim teve devido aos interesses dos partidos especialmente os fascismos que queria «arranjar confusão» com os partidos de esquerda, chegavam ao ponto de fazerem atentados entre si.

Considera que nos nossos dias, existe alguém que possa adquirir os poderes de Salazar?

R: Não, acho impossível devido a Salazar ter uma “rede” de pessoas em volta dele que lhe permitia saber de tudo em todo o lado e mantinha o povo pouco informado mantendo-os na ignorância aproveitando-se dessa situação. Nos dias de hoje conhecemos o poder da liberdade, estamos informados e não podemos abrir mão disso. Julgo ser muito difícil voltar a acontecer tudo isso.

Maria Matos Nº18 12ºF

*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Esta é a madrugada que eu esperava"

 

Sem comentários:

Enviar um comentário