Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*
P: Onde estava no 25 de Abril?
R: Estava em casa, por acaso estava a ouvir a rádio, mas estava a tomar conta da tua mãe que tinha meses de nascida.
P: Tinha medo de Salazar e da PIDE? Tinha noção de que o povo tinha, ou não, medo do regime de Salazar e da PIDE?
R: Eu tinha, claro que tinha. O Salazar mandava a PIDE prender quem fosse da oposição, ou quem desse um passo em falso. Quanto à população, ela também tinha medo, mas também acrescentava a esse medo a dúvida se iam passar fome, se iriam matar ou até se íamos ter emprego.
P: Qual a escolaridade que fez? As pessoas que conhecia iam à escola?
R: Fiz até à quarta classe, as pessoas que conhecia eram os meus colegas de classe, então sim as pessoas que conhecia iam à escola. Uma curiosidade interessante, era que, naquela época, a escola, era uma casa de uma senhora, em que só havia uma sala com trinta e tais alunos, nós só tínhamos uma professora, ela dava de todas as matérias para todas as classes que ela tinha, e creio que em 4 anos aprendia-se muito mais que em 12 anos de escolaridade.
P: Tinha alguma ideologia política na época? Se sim, qual era?
R: Eu era e sou comunista.
P: Conheceu pessoas próximas que emigraram? Se sim, o que levou a elas emigrarem?
R: Para entenderes as pessoas emigravam a “salto” (ilegal), as pessoas tinham que arranjar um passador, para passar a fronteira, pois tinham que pagar 5,10, ou 20 contos, conforme o caso, depois tinham outros passadores para a continuação, às vezes eram presos pela PIDE, durante o caminho, e tinham que voltar para trás. Depois havia a Carta de Chamada (legal), que eram os patrões chamavam, tinham que tratar do passaporte e aí já podiam viajar legalmente. O teu tio foi de Carta de Chamada para França trabalhar enquanto o teu avô foi a “salto”.
P: Qual o impacto que a Revolução teve na sua vida?
R: Digamos que foi muito emocionante, porque passamos de não ter liberdade para fazer nada, sem que a PIDE estivesse ao encalço, para depois termos liberdade quase que infinita. Lembro-me de até ter chorado enquanto ouvia a rádio, foi uma sensação que só quem esteve presente naquele momento sabe o quão intenso foi, é uma sensação indescritível.
Marisa, 12º F
*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Hoje é a madrugada que eu esperava"
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