sábado, 24 de abril de 2021

Onde estava no 25 de abril?

 
Os alunos do K.Leio responderam mais uma vez ao desafio da professora Fátima Lopes no âmbito da disciplina de História. Desta vez, entrevistaram familiares, vizinhos e conhecidos sobre esse dia em que "emergimos da noite e do silêncio"*

Entrevistado: Estrela Ribeiro, 70 anos

P: Onde estava no 25 de Abril?

R: Estava em casa, por acaso estava a ouvir a rádio, mas estava a tomar conta da tua mãe que tinha meses de nascida.

P: Tinha medo de Salazar e da PIDE? Tinha noção de que o povo tinha, ou não, medo do regime de Salazar e da PIDE?

R: Eu tinha, claro que tinha. O Salazar mandava a PIDE prender quem fosse da oposição, ou quem desse um passo em falso. Quanto à população, ela também tinha medo, mas também acrescentava a esse medo a dúvida se iam passar fome, se iriam matar ou até se íamos ter emprego.

P: Qual a escolaridade que fez? As pessoas que conhecia iam à escola?

R: Fiz até à quarta classe, as pessoas que conhecia eram os meus colegas de classe, então sim as pessoas que conhecia iam à escola. Uma curiosidade interessante, era que, naquela época, a escola, era uma casa de uma senhora, em que só havia uma sala com trinta e tais alunos, nós só tínhamos uma professora, ela dava de todas as matérias para todas as classes que ela tinha, e creio que em 4 anos aprendia-se muito mais que em 12 anos de escolaridade.

P: Tinha alguma ideologia política na época? Se sim, qual era?

R: Eu era e sou comunista.

P: Conheceu pessoas próximas que emigraram? Se sim, o que levou a elas emigrarem?

R: Para entenderes as pessoas emigravam a “salto” (ilegal), as pessoas tinham que arranjar um passador, para passar a fronteira, pois tinham que pagar 5,10, ou 20 contos, conforme o caso, depois tinham outros passadores para a continuação, às vezes eram presos pela PIDE, durante o caminho, e tinham que voltar para trás. Depois havia a Carta de Chamada (legal), que eram os patrões chamavam, tinham que tratar do passaporte e aí já podiam viajar legalmente. O teu tio foi de Carta de Chamada para França trabalhar enquanto o teu avô foi a “salto”.

P: Qual o impacto que a Revolução teve na sua vida?

R: Digamos que foi muito emocionante, porque passamos de não ter liberdade para fazer nada, sem que a PIDE estivesse ao encalço, para depois termos liberdade quase que infinita. Lembro-me de até ter chorado enquanto ouvia a rádio, foi uma sensação que só quem esteve presente naquele momento sabe o quão intenso foi, é uma sensação indescritível.

Marisa, 12º F

*Sophia de Mello Breyner Andresen, poema "Hoje é a madrugada que eu esperava"

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